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sábado, 13 de novembro de 2010

MIGUEL DE CASTRO HENRIQUES - O Sopro das Vozes

Dedicatória e autografo do amigo e escritor Miguel Henriques 


O SOPRO DAS VOZES

TEXTOS DE ÍNDIOS AMERICANOS

Na passagem de milénio o princípio de interconectividade (no sentido de Italo Calvino) pode-nos ajudar a mudar do cenário pós "Aldeia Global" para um Cosmopolitismo Global, de culturas diferenciadas, mutuamente redescobrindo as suas tradições e em estado de Renascimento: o estado de abertura. Na abertura mútua, interconectiva, entre culturas, a filosofia e a sabedoria do Índio podem-nos enriquecer muito: a sua relação de amor e veneração pela mãe Terra, o código e etiqueta da sua vida de caçador e guerreiro (semelhante ao das vias do guerreiro zen), o seu ecologismo espontâneo, o seu espírito comunitário e colectivo, democrático, tolerante; o respeito pelos mais velhos e a protecção e tempo que confere às crianças, a sua atitude de não competitividade, a importância que dá à dança, podem-nos ensinar a dar novos passos para um outro e novo entendimento das coisas.

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Nesta pequena colectânea de textos índios, que esperamos venha a ser um ponto de partida para que o leitor se sinta motivado a aprofundar o assunto, em primeiro lugar reunimos textos provindos da tradição oral de diversas tribos (como os Pequot, Nez Percé, Algonquinos, Tlingit, Sioux, Hopi e outros) e recolhidos no virar do século passado e no dealbar deste por etnólogos americanos. Trata-se de textos que nos falam da Criação do Mundo. Estamos perante uma linguagem que não é certamente a das ciências exactas, antes a do Mito e das lendas, e como tal nos falam na linguagem da revelação: a simbólica."

Miguel Castro Henriques (excerto do prefácio)




sábado, 1 de maio de 2010

RESENDES VENTURA - Papel a Mais






Desenhos de Resendes Ventura
SETÚBAL
Guardo uma noite de estrelas
para ver entre castelos
Setúbal em dois caminhos

Encruzilhando os destinos
Setúbal com dois caminhos
o mar e a terra cruzou
.
Setúbal para dois caminhos
levou-me os olhos à serra
e a distância convocou

Redonda a mão na laranja
a outra em concha tem sal
e dois caminhos Setúbal.
LIVROS

…teca! Biblioteca!
Biblioteca livro a ser
Branca folha envelhecida
Em que o mundo se recria.
Sol e sombra do silêncio.
Respira do meu compasso
De amparar o que já sei
Ignorando que o sabia,
De aprender a encontrar
Entre palha o grão antigo
Sem meu digo e com meu digo.
Livro …teca! Biblioteca!
Livro a ser a Biblioteca!
Biblioteca ….teca ….teca!
Biblioteca!

IMENSIDÃO
Poema Arrabidino
Teu canto
sem princípio e sem fim:
todas as coisas existindo
para além de si mesmas.
.
Um sol no alto quase a pino
dando à luz um repouso
nas sombras das ramagens
sob os verdes entre os verdes sobre o chão.
.
Teu silêncio
diante de um espelho que te dá
em imagem do mundo
o sonho que trazias.
.
Em sobreviver!
quem virá esta esperança redimir
de ter amado tanto o impossível?

Pouco! Muito pouco sempre um homem
sulcando espaços infinitos
na vastidão imensa dos destinos!

Por isso enquanto
a teia de tudo obedecer
à lei do movimento em que respiras
teu canto há-de ser em ti a vida.

Sem fim. E mesmo sem princípio.



Resendes Ventura
Manuel Pereira Medeiros


Papel a Mais

Este livro oferece-nos, simultaneamente, ensaio e literatura.
Ensaio, porque o livreiro Manuel Medeiros deci­diu dizer o que pensa acerca da situação actual do mercado do livro, sem deixar de falar das políticas de incentivo à leitura e dos diversos agentes que fazem desta actividade um negócio e ou uma paixão. A sua experiência de largas dezenas de anos ― convivendo com autores, editores e distribuidores ― é assim posta ao serviço de uma reflexão que ao correr da pena vai descobrindo feridas e apontando caminhos.
Literatura, porque o escritor Resendes Ventura (afinal, o livreiro Manuel Medeiros) publica nesta obra uma extensa colectânea de folhas em prosa e poesia, fazendo-se aliás acompanhar por notá­veis companheiros de escrita que fizeram questão de partici­par, com textos que nunca lemos, home­na­geando o autor.

INCLUI TEXTOS INÉDITOS DOS ESCRITORES:
MATILDE ROSA ARAÚJO, TERESA RITA LOPES, MARIA ALBERTA MENÉRES, LUÍSA DUCLA SOARES, SILVA DUARTE, AVELINO DE SOUSA, URBANO TAVARES RODRIGUES, EDUÍNO DE JESUS, URBANO BETTENCOURT, ONÉSIMO TEOTÓNIO ALMEIDA, ARMANDO CÔRTES-RODRIGUES, MARIA DE LOURDES BELCHIOR, FAUSTO LOPO DE CARVALHO, SEBASTIÃO DA GAMA
E UMA ILUSTRAÇÃO INÉDITA DE JOSÉ RUY

SOBRE O AUTOR:
Resendes Ventura é o nome literário de Manuel Pereira Medeiros, que o criou para a sua escrita quando em 1968 saiu dos Açores, onde assinava como Manuel Pereira. Nasceu a 14 de Janeiro de 1936 na freguesia de Água Retorta, concelho de Povoação, na ilha de São Miguel, e reside em Setúbal desde 1970, onde continua a trabalhar na livraria que fundou, a Culsete, um dos pólos culturais relevantes da cidade de Setúbal.
Tem escrito inúmeros artigos, dispersos por jornais e revistas, e tem colaborado com diversas estações de rádio onde já manteve rubricas sobre livros. É autor de prefácios, textos de divulgação e alguns de polémica, num exercício consciente de cidadania.
Tem diversas obras publicadas e está representado nas seguintes antologias: Antologia Poética dos Açores (Angra do Heroísmo, 1979), Setúbal Terra de Poetas e Cantadores (Setúbal, 2001), A Serra da Arrábida na Poesia Portu­guesa (Setúbal, 2002).

Esta obra foi publicada com o apoio da Presidência do Governo dos Açores.

sábado, 10 de abril de 2010

MIA COUTO - Venenos de Deus Remédios do Diábo



Venenos de Deus Remédios do Diabo
O jovem médico português Sidónio Rosa, perdido de amores pela mulata moçambicana Deolinda, que conheceu em Lisboa num congresso médico, deslocou-se como cooperante para Moçambique em busca da sua amada. Em Vila Cacimba, onde encontra os pais dela, espera pacientemente que ela regresse do estágio que está a frequentar algures. Mas regressará ela algum dia?
Entretanto vão-se-lhe revelando, por entre a névoa que a cobre, os segredos e mistérios, as histórias não contadas de Vila Cacimba — a família dos Sozinhos, Munda e Bartolomeu, o velho marinheiro, o administrador, Suacelência e sua Esposinha, a misteriosa mensageira do vestido cinzento espalhando as flores do esquecimento.
“Editorial Caminho”
………………………
Mia Couto - Biografia
Mia Couto nasceu na Cidade da Beira (Moçambique) em 1955, filho de uma família de emigrantes portugueses. Publicou os primeiros poemas no "Notícias da Beira", com 14 anos. Em 1972, deixou a Beira e partiu para Lourenço Marques para estudar Medicina. A partir de 1974, começou a fazer jornalismo, tal como o pai. Com a independência de Moçambique, tornou-se director da Agência de Informação de Moçambique (AIM). Dirigiu também a revista semanal "Tempo" e o jornal "Notícias de Maputo".
Em 1985 formou-se em Biologia pela Universidade Eduardo Mondlane. Foi também durante os anos 80 que publicou os primeiros livros de contos. Estreou-se com um livro de poemas, "Raiz de Orvalho" (1983), só publicado em Portugal em 1999. Depois, dois livros de contos: "Vozes anoitecidas" (1986) e "Cada Homem é uma Raça" (1990).Em 1992 publicou o seu primeiro romance, "Terra Sonâmbula". A partir de então, apesar de conciliar as profissões de biólogo e professor, nunca mais deixou a escrita e tornou-se um dos nomes moçambicanos mais traduzidos: espanhol, francês, italiano, alemão, sueco, norueguês e holandês são algumas línguas. Outros livros do autor: "Estórias Abensonhadas" (1994); "A Varanda do Frangipani" (1996); "Vinte e Zinco" (1999); "Contos do Nascer da Terra" (1997); "Mar me quer" (2000); "Na Berma de Nenhuma Estrada e outros contos" (2001); "O Gato e o Escuro" (2001); "O Último Voo do Flamingo" (2000); "Um Rio Chamado Tempo, Uma Casa Chamada Terra" (2002). "O Fio das Missangas" (2004) é o seu último livro de contos.
Em 1999 foi vencedor do prémio Vergílio Ferreira pelo conjunto da obra, um dos mais conceituados prémios literários portugueses, no valor cinco mil euros, que já premiou Maria Velho da Costa, Maria Judite de Carvalho e Eduardo Lourenço, entre outros. Em 2001, recebeu também o Prémio Literário Mário António (que distingue obras e autores dos países africanos lusófonos e de Timor-Leste) atribuído pela Fundação Calouste Gulbenkian por "O Último Voo do Flamingo" (2000).





domingo, 4 de abril de 2010

JOSÉ LUÍS PEIXOTO - Cemitério de Pianos




José Luís Peixoto oferece-nos um texto mágico, no qual se cruzam, numa interacção fluida, diálogos cúmplices com a grande tradição da literatura portuguesa e universal.
Um romance que começa com uma narrativa simples e linear mas que aos poucos se torna cada vez mais complexa, resultado de um puzzle de imensos pedaços de texto em que cada um foca uma determinada situação temporal que é por sua vez relatada por personagens distintos, num encadeamento de saltos cronológicos para trás e para a frente, onde a história de um dos personagens principais e aparente autor/narrador do livro se confunde com a história do seu neto, estando a base do romance centrada na história do seu filho Francisco Lázaro, corredor da maratona dos Jogos Olímpicos de 1912 (onde falece no decorrer da mesma), e dos seus outros três filhos, Marta, Maria e Simão. O leitor fica preso a um enredo onde constantemente se questiona se determinado personagem se trata do avô ou do neto, encontrando um nó cego com provas de ambas as condições sem que tais se contradigam de forma absoluta, estando a chave do labirinto narrativo na oficina da família que alberga um cemitério de pianos que constantemente são usados para reparação e reconstrução de outros pianos, metáfora que dá corpo a uma história de três gerações onde todos os personagens se reconstroem uns nos outros, e onde cada um dá uma perspectiva diferente da sua própria história, sendo denominador comum os amores idealizados e as frustrações concretizadas, num misto de ternos momentos de felicidade e tragédias cruéis, símbolos de vidas comuns com um quotidiano monótono mas onde as expectativas e realizações de cada um lhe dão cores vivas e diferentes, matizadas de forma poética pelo escritor deste romance.

Misturando factos a partir de pontos de vista de cada personagem com alguns momentos de fantasia e irrealidade, o relato de um morto acerca dos momentos de antes e de depois da sua morte, dos relatos de vida do seu filho também morto até ao momento da sua morte, as sentenças duras da neta de três anos em dois diálogos adultos com o espírito do avô, colocando em perspectiva a idílica visão do avô acerca da sua vida e a contrastante dura visão que os seus familiares tinham acerca dele. Com violentos e duros momentos que marcam a vida dos seus filhos, sobressaem os eternos laços de sentimentos que os unem e que geram momentos aparentemente vulgares mas plenos de significação emotiva que adjectivam e dão sentido às suas aparentemente vazias existências.

O livro deixa o leitor em suspenso e curioso até ao seu final devido aos constantes episódios partidos que pedem continuação e fecho, oferecendo momentos de morte que coincidem com momentos de nascimento, histórias de amor, de desilusão, de traições, de ambições e de acomodação, em pequenas peças que se vão montando de forma difusa e labiríntica, juntando-se num todo tornado consistente até final do livro, numa orquestração subtil e bem encadeada que não alcança mais que aquilo que promete de início, consolidando uma talvez triste história de vidas desperdiçadas, mas que comove e deixa uma ideia de vidas realizadas com muitos momentos de terna eternidade completados com a esperança do devir que afinal sempre repete.


Como nota de rodapé, o interessante trabalho biográfico efectuado em torno da pessoa real que foi o atleta Francisco Lázaro, e da temática dos pianos e da sua sonoridade como alicerces de uma analogia entre as os delicados mecanismos físicos e a beleza pura do som que se pode obter deles, com a fragilidade e diversidade de sentimentos e sensações do ser humano, reparáveis e reconstruíveis.
JOSÉ LUÍS PEIXOTO - Biografia
Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas (variante Inglês e Alemão), pela Universidade Nova de Lisboa, foi professor em vários pontos do país e em Cabo Verde.

Actualmen
te trabalha como jornalista e crítico literário em vários jornais e tem colaborado, com textos de ficção, em revistas literárias. Entre outros textos seus que têm sido encenados, fez o guião para um vídeo do músico rap Sam the Kid e o libreto para uma ópera para crianças baseada no mito de Orpheu e Eurídice, encenada pela companhia teatral Útero.

Começou a publicar prosa e poesia no suplemento «DN Jovem», do jornal Diário de Notícias, tendo sido vencedor do Prémio Jovens Criadores do Instituto Português da Juventude em 1997, 1998 e 2000. Alguns desses poemas foram publicados posteriormente nos cadernos Átis e reunidos no volume A criança em ruínas (2001).

Nenhum olhar, publicado no ano 2000, o primeiro romance de José Luís Peixoto, foi imediatamente saudado como uma grande obra de estreia: venceu o Prémio Literário José Saramago e foi seleccionado para dois dos mais conceituados prémios literários: o Grande Prémio de Romance e Novela da A.P.E. e o Prémio de Ficção do PEN Clube Português. Blank gaze (na tradução inglesa) foi incluído na lista dos melhores livros de ficção publicados no Reino Unido em 2007 do jornal britânico Financial Times.

Está publicado em mais de dez línguas.

sábado, 3 de abril de 2010

MIGUEL DE CASTRO HENRIQUES - Uma Menina de Sete Gatos ou o Saldo de Eüler



Livro Este é um livro de crónicas onde a imaginação não conhece limites, dando-nos a conhecer um mundo fantástico. As histórias são construídas de forma labiríntica, introduzindo elementos que por vezes não nos ajudam a encontrar a saída, mas pelo contrário nos fazem mergulhar ainda mais na leitura, inundando-nos de ficção. São pequenas odisseias onde tudo é possível, uma vez que nos encontramos no domínio dos sonhos das personagens e dos nossos próprios sonhos.
…………………………………

Miguel de Castro Henriques (Buenos Aires, 5 de Junho de 1954) é um escritor, poeta, pintor e tradutor, representante do surrealismo português.
Frequentou a Faculdade de Medicina de Lisboa e estudou filosofia na Faculdade de Vincennes, onde foi aluno de Gilles Deleuze. Durante a sua estadia em Paris em 1971 frequenta a Academia IFIF de La Petite Lune. Com João de Sousa Monteiro fundou o Movimento Abaldista ou Abald, em ano incerto, num golpe de sorte. Fez parte do grupo dissidente "Os Surrealistas" do qual fazem parte entre outros os seguintes poetas Virgílio Martinho, Herberto Helder, António Quadros, M.S.Lourenço, Nicolau Saião, Mário Botas, Hermínio Monteiro e Miguel de Castro Henriques. Mais tarde com Mário Cesariny e M.S.Lourenço fundou o Bureau Surrealista ainda em actividade.
………………………………

A MENINA QUE TINHA MUITAS REVISTAS DEBAIXO DA CAMA

“A menina era maga e tinha muitas revistas debaixo da cama.
Um dia, ia um gato a passar, a menina caiu da cama a baixo e bateu com os olhos numa das revistas.
Ficou a ver tudo pelo canto dos olhos.
Ao chegar ao canto das casas em que vivia só via revistas e ao ver só revistas só via cantos das casas.
Quando queria agarrar nas revistas só agarrava em pedaços de parede ou caliça e quando queria limpar ou pintar a caliça acabava por limpar ou pintar revistas.
A mãe ralhava-lhe:
- Ó menina porque estão as revistas todas brancas?
Ó menina porque estão as revistas todas molhadas?
A menina não dizia nada e começava a chorar, e chorava tanto que até o gato se afligia.
Quando o gato se afligia arranhava o tapete.
A menina chorou tanto e o gato arranhou tanto o tapete que o tapete acabou por ficar gasto.
Quando ficou gasto viu-se que por debaixo dele havia uma porta no chão.
A mãe passou e ralhou:
- Porque fizeste tu uma porta aqui?
- Não fiz porta nenhuma! – disse a menina.
- Limpa esta porta daqui! – disse a mãe.
E a menina começou a limpar a porta, mas como só via pelo canto dos olhos em vez de limpá-la dali, abriu-a, e encontrou uma escada que descia muito para o fundo e que era muito escura ao principio.
O gato foi à frente.
Desceram e desceram cada vez mais, até que chegaram a uma grande sala muito escura.
Num grande caldeirão que era uma retrete estava sentado o diabo; noutro grande caldeirão que era uma fonte estava sentado Deus.
Entre os dois corria um rio. Dentro do rio nadavam umas almas que pareciam peixes e outras que pareciam caranguejos e outras ainda que pareciam pérolas.
As almas de vez em quando punham a boca fora de água e deitavam um sopro branco, outras um sopro vermelho e outras ainda um sopro azul.
O diabo queria apanhar tanto o sopro branco como o vermelho e o azul. Mas Deus não deixava.
Quando o gato apareceu o diabo disse:
- O que é isto?
Deus disse que aquilo era um gato e que um gato era um bicho muito sossegado e muito irritável.
Depois apareceu a menina e e o diabo disse:
- O que é isto?
E Deus explicou que a menina não era bicho nenhum, era uma alma ou muito plácida ou muito frenética, e sempre imprevisível.
O diabo agradeceu a Deus a explicação e mergulhou no rio.
Depois apareceu outra vez à tona da água e trouxe um cordel, um anel e um farnel.
- Para que são essas coisas’ – perguntou Deus levantando-se da fonte.
-O cordel é para a menina amarrar o gato a ela, o anel é para a menina amarrar o amor a ela e o farnel é para a menina amarrar o estômago a ela.
E assim foi.
A menina e o gato depois de se despedirem seguiram viagem para mais fundo ainda do que o fundo do mar.
Viram cidades todas talhadas em rochas e palácios todos talhados em coral. Viram estátuas que abriam e fechavam a boca e viram lobos marinhos que escreviam em máquinas de escrever.
Viram golfinhos que andavam de chapéu de palha e viram muitos sóis a puxar os cabelos uns aos outros. Viram brâmanes que passavam o dia inteiro de língua de fora a dizer a letra”i” e viram crocodilos que passavam o dia de boca aberta a dizer “IEAOU”.
-Aonde estão as revistas? – Perguntou o gato excitado.
- aqui não há revistas nenhumas. Aqui tudo o que tu vês e ouves é a revista – , disse a voz
Ao ouvir a voz a menina ficou curada
Tirou o cordel de volta do pescoço do gato e na ponta do cordel pendurou o anel.
O anel voou, voou e voou (era uma anel mágico) e encontrou um príncipe.
A menina a principio julgou que o príncipe era um tolinho que só sabia dizer “iam” e “ão”. Depois viu finalmente que era um sapo.
Deu-lhe metade da comida do farnel.
A outra comeu-a ela e o gato.
Depois montou-se no sapo e foram aos saltos para uma terra onde não havia mães.
Que terra é esta? Perguntou o gato que corria aos saltos, muito divertido com o sapo e com a menina que não parava de rir.
Do cimo de uma árvore que era tão grande que chegava quase até ao sol veio uma voz que disse:
- Esta é a terra para além de toda a expectativa.”
Miguel Castro Henriques
(Assírio&Alvim)

quarta-feira, 31 de março de 2010

CABRAL ADÃO - Meu Liceu, Minha Saudade



"Pequeno" livro de poemas do Dr. Luís Cabral Adão de 1950 com dedicatória para o meu pai.

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Luís Cabral Adão nasceu em Vila Flor, Trás-os-Montes, no dia 24 de Junho de 1910, tendo falecido em Almada a 6 de Agosto de 1992.
Licenciou-se pela Faculdade de Medicina do Porto, vindo a especializar-se em Estomatologia, múnus que exerceu com aprumo, saber e eficiência em Setúbal, Alcácer do Sal e Almada.
Foi um dos fundadores da Arcádia da Fonte do Anjo, a que presidiu e onde se salientou como principal dinamizador dessa agremiação literária que havia de disseminar a excelência do fenómeno poético entre as gentes do espaço circundante da "Cidade do Rio Azul".

Bibliografia:
Flores do Rio Azul - Prosa - 1953
Paisagens do Norte - Prosa - 1954
As Flores do Arrozal - Opúsculo - 1955
Meu Liceu, Minha Saudade - Versos - 1948 e 1978
Gineceu - Versos - 1958
Panorâmica, Setúbal - Versos - 1958
Vila Flor - Versos - 1966
Plectro a Jesus - Versos - 1971
O Homem da Terra - Prosa – 1986

CABRAL ADÃO - Panorâmica "Poemas a Setúbal"



Livro de 1963 com dedicatória ao meu pai dada pelo autor e amigo, companheiro de muitas viagens e acampamentos escutistas por esse Mundo fora Dr. Luís Cabral Adão.

Não há um rio na minha terra!..
Só a três léguas, pra cada lado.
Mas eis que a vida aqui me desterra
Pra me dar um – o meu terno Sado !

Rio tranquilo, rio do Sul,
De águas puras como um cristal.
Doutro não sei, mais claro e azul,
Rio mais belo de Portugal!!!

…………

E quando, à noite, o luar se abata
No Sado azul, preguiçoso, terno,
Todo ele é salva de nívea prata
Pra as alianças dum amor eterno!


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Luís Cabral Adão nasceu em Vila Flor, Trás-os-Montes, no dia 24 de Junho de 1910, tendo falecido em Almada a 6 de Agosto de 1992.
Licenciou-se pela Faculdade de Medicina do Porto, vindo a especializar-se em Estomatologia, múnus que exerceu com aprumo, saber e eficiência em Setúbal, Alcácer do Sal e Almada.
Foi um dos fundadores da Arcádia da Fonte do Anjo, a que presidiu e onde se salientou como principal dinamizador dessa agremiação literária que havia de disseminar a excelência do fenómeno poético entre as gentes do espaço circundante da "Cidade do Rio Azul".

Bibliografia:
Flores do Rio Azul - Prosa - 1953
Paisagens do Norte - Prosa - 1954
As Flores do Arrozal - Opúsculo - 1955
Meu Liceu, Minha Saudade - Versos - 1948 e 1978
Gineceu - Versos - 1958
Panorâmica, Setúbal - Versos - 1958
Vila Flor - Versos - 1966
Plectro a Jesus - Versos - 1971
O Homem da Terra - Prosa – 1986

P. ALBERTO TEIXEIRA DE CARVALHO - Na Aurora da Vida



Livro com dedicatória dada ao meu pai pelo autor da obra, em 12.07.1943.
Livro de contos para a juventude baseado em situações vividas e observadas pelo autor.
“Os meus contos já publicados, tão admirados pelas crianças, qualquer os pode escrever, se souber observar a vida duma criança com todas as suas vibrações, nessa idade tão linda, onde tudo é luz, cânticos, amores!.”


terça-feira, 30 de março de 2010

MARIA JOSÉ MORGADO e JOSÉ VEGAR - O inimigo sem rosto


Os crimes económico-financeiros organizados, neles incluindo a corrupção e a fraude, não fazem, aparentemente, vítimas. No entanto, como se tenta demonstrar ao longo destas páginas, são provavelmente aqueles que maiores danos causam aos Estados e aos seus cidadãos. Geram pobreza, impedem o desenvolvimento económico, provocam injustiça social e são responsáveis pela degradação do sistema político e das instituições públicas.

ONDJAKI - Avó Dezanove e o Segredo do Soviético



As obras do Mausoléu que irá albergar os restos mortais do presidente da República estão quase a terminar. Os habitantes do bairro vizinho descobrem que as suas casas serão destruídas porque o espaço circundante ao monumento será requalificado. Duas crianças decidem explodir o Mausoléu e assim poupar o bairro onde sempre viveram. Entretanto o responsável pela obra, um soviético, apaixona-se pela avó de uma das crianças. Entretanto essa avó tem de ser operada para lhe amputarem um dedo do pé. Entretanto existe uma outra avó que aparece muito mas não existe. Entretanto o plano das crianças falha, mas o Mausoléu é destruído…


FRANCISCO JOSÉ VIEGAS - Liberal



Reúnem-se neste livro parte das crónicas escritas para a imprensa nos últimos anos. Estes textos são datados e dão conta de derrotas e de pequenos contentamentos, como é geralmente a vida de um observador. Não são textos «vitoriosos», no sentido em que, ao contrário do que se pensa bastante em Portugal, a opinião não vai a votos. E o facto de uma opinião ser amplamente minoritária não lhe retira nem legitimidade nem assinatura.

domingo, 28 de março de 2010

MÁRIO DE CARVALHO - Fantasia para dois coronéis e uma piscina




Em fantasia para dois coronéis e uma piscina, Mário de Carvalho trata a sociedade portuguesa do início do século XX com as suas contradições internas, a sua saloíce, aflorando os seus traumas e os seus desígnios, questionando-se mesmo, no final da obra, se "Há emenda para este país?". E toda esta narração, onde o real se cruza com os momentos mais delirantes produto da imaginação de Emanuel Elói (um jovem mestre de xadrez e vedor de água em contínua digressão pelo país no seu Renault 4) ou a destruição de uma estação de serviço por uma claque de futebol que se move de forma quadrúpede nos é narrada de forma quase anedótica, provocando o riso, ora pela aberração, ora pela ironia. Os protagonistas que dão nome à obra são dois coronéis reformados do exército, com experiência da guerra colonial e do 25 de Abril (que os viu em lados opostos) cuja grande parte das conversas tem lugar junto à piscina que um construiu num monte alentejano, algures perto de Serpa, onde gozam a reforma. O empresário de sucesso do Norte, a menina da estação de serviço, a esposa fina mas vernacular, o filho de 42 anos que permanece ligado aos tags (não aos graffitti)e polvilhado de piercings, completam as principais personagens desta hilariante obra cujo cenário é muito mais que o meio rural português povoado pelos regressados coronéis. Tal como em"Um Deus passeando pela brisa da tarde” é a decadência de um império que se sente nesta obra.


Texto: Wikipédia

JOÃO FRANCISCO ENVIA - Setubalenses de Mérito




Este livro contém a biografia de 120 setubalenses, uns nascidos nesta “princesa do Sado”, outros, que por adopção ou opção, aqui se fixaram, prestando relevantes serviços em prol da cidade, colaborando no seu desenvolvimento cultural, comercial e industrial, assim como no bom nome desta terra sadina.
João Francisco Envia nascido em 10 de Julho de 1919 na freguesia da Anunciada faleceu em 28 de Fevereiro de 2010. Um grande defensor da cultura setubalense e de Azeitão, deixa uma vasta obra publicada onde abordou as vidas de várias dezenas de setubalenses ilustres.
Foi aluno da Escola Industrial e Comercial de Gil Vicente. Iniciou a sua actividade com 11 anos na antiga Papelaria Campos e em 1948 fundou o seu próprio negócio com a abertura da Papelaria Rubi, na rua Arronches Junqueiro.
Fez parte dos corpos gerentes do Vitória Futebol Clube e era dirigente na época em que este clube, a sua grande paixão, conquistou a 1.ª Taça de Portugal. Fundou a sua Secção de Pesca Desportiva e dirigiu-a durante vários anos. Foi presidente do Conselho Fiscal da Associação Regional do Centro de Pesca Desportiva, sediada em Lisboa, director em várias direcções da Associação de Socorros Mútuos Setubalense, director do Clube Naval Setubalense e tesoureiro da LASA.
Colaborou com a imprensa regional desde 1959, entre os quais o jornal «O Setubalense», onde ainda assinava várias crónicas bastante elogiadas por todos os que apreciavam o seu estilo e obra.
Deixa uma dezena de livros publicados, com destaque para “Setúbal, a Princesa do Sado” e “Setubalenses de Mérito”. A sua última obra foi “Elmano Sadino – O Poeta Amoroso”.




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