Autografo e dedicatória do meu amigo o escritor Miguel Henriques
“Gostava de um dia ler estes meus contos como se fossem de outra pessoa, de alguém que ao mesmo tempo sou eu e não sou se. Escrevi-os sem atravessar as torturas que dizem ter o acto criativo. Ao contrário, deixei-me levar por uma voz interior pequena, quase muda e reticente, e de aparição instável, de tal modo que o subtítulo deste livro poderia ser “Contos da Pequeníssima Lua”.
Penso que os contos são um modo de regressarmos a nós, à surpresa de ser e redescoberta da nossa identidade, e também são entretenimento. Esta é uma palavra de que a industria dos media se apropriou para adormecer a nova tribo planetária, a tribo audiovisual. Porém, entreter tem um significado mais amplo do que uma simples diversão, tem a ver com um domínio do tempo, com uma suspensão do tempo, que o pode dilatar e fazer entrar no registo do tempo mítico.
Sendo assim estes contos foram escritos contra e a favor do tempo moderno. Contra, porque a fragmentação, nova formatação e compactamento do tempo moderno induzem experiências esquizofrénicas; a favor, porque tem a haver um tempo absolutamente moderno que abranja todos os tipos de tempo que até agora experienciámos.
Toquei em alguns personagens lendários da história de Portugal, e tratei de trazer à luz o seu lado obscuro, labiríntico, em vez da versão platónica que aprendi na infância. Para mim, a contemporaneidade mais vibrante brinca com uma re-apropriação e re-invennção de todos os passados e também com um certo jogo barroco do significante.
No entanto, nunca se consegue o objectivo; mesmo depois da flecha acertar no alvo, o alvo continua a voar. Talvez seja esse afinal o objectivo: encontrar um novo alvo”
Miguel de Castro Henriques
Miguel de Castro Henriques (Buenos Aires, 5 de Junho de 1954) é um escritor, poeta, pintor e tradutor, representante do surrealismo português.
Frequentou a Faculdade de Medicina de Lisboa e estudou filosofia na Faculdade de Vincennes, onde foi aluno de Gilles Deleuze. Durante a sua estadia em Paris em 1971 frequenta a Academia IFIF de La Petite Lune. Com João de Sousa Monteiro fundou o Movimento Abaldista ou Abald, em ano incerto, num golpe de sorte. Fez parte do grupo dissidente "Os Surrealistas" do qual fazem parte entre outros os seguintes poetas Virgílio Martinho, Herberto Helder, António Quadros, M.S.Lourenço, Nicolau Saião, Mário Botas, Hermínio Monteiro e Miguel de Castro Henriques. Mais tarde com Mário Cesariny e M.S.Lourenço fundou o Bureau Surrealista ainda em actividade.
Miguel de Castro Henriques tem amplamente praticado a escrita e a pintura automática, e alguns dos seus livros de contos, como Uma Nuvem num Pote de Barro foram publicados na Assírio&Alvim.
Penso que os contos são um modo de regressarmos a nós, à surpresa de ser e redescoberta da nossa identidade, e também são entretenimento. Esta é uma palavra de que a industria dos media se apropriou para adormecer a nova tribo planetária, a tribo audiovisual. Porém, entreter tem um significado mais amplo do que uma simples diversão, tem a ver com um domínio do tempo, com uma suspensão do tempo, que o pode dilatar e fazer entrar no registo do tempo mítico.
Sendo assim estes contos foram escritos contra e a favor do tempo moderno. Contra, porque a fragmentação, nova formatação e compactamento do tempo moderno induzem experiências esquizofrénicas; a favor, porque tem a haver um tempo absolutamente moderno que abranja todos os tipos de tempo que até agora experienciámos.
Toquei em alguns personagens lendários da história de Portugal, e tratei de trazer à luz o seu lado obscuro, labiríntico, em vez da versão platónica que aprendi na infância. Para mim, a contemporaneidade mais vibrante brinca com uma re-apropriação e re-invennção de todos os passados e também com um certo jogo barroco do significante.
No entanto, nunca se consegue o objectivo; mesmo depois da flecha acertar no alvo, o alvo continua a voar. Talvez seja esse afinal o objectivo: encontrar um novo alvo”
Miguel de Castro Henriques
**************************
Frequentou a Faculdade de Medicina de Lisboa e estudou filosofia na Faculdade de Vincennes, onde foi aluno de Gilles Deleuze. Durante a sua estadia em Paris em 1971 frequenta a Academia IFIF de La Petite Lune. Com João de Sousa Monteiro fundou o Movimento Abaldista ou Abald, em ano incerto, num golpe de sorte. Fez parte do grupo dissidente "Os Surrealistas" do qual fazem parte entre outros os seguintes poetas Virgílio Martinho, Herberto Helder, António Quadros, M.S.Lourenço, Nicolau Saião, Mário Botas, Hermínio Monteiro e Miguel de Castro Henriques. Mais tarde com Mário Cesariny e M.S.Lourenço fundou o Bureau Surrealista ainda em actividade.
Miguel de Castro Henriques tem amplamente praticado a escrita e a pintura automática, e alguns dos seus livros de contos, como Uma Nuvem num Pote de Barro foram publicados na Assírio&Alvim.
Um escritor, de que nunca tinha ouvido falar. Obrigada pela partilha
ResponderEliminarUm abraço
Não é muito divulgado mas os seus livros de contos são fantásticos.
EliminarUm abraço.
Desconhecia. Parece-me interessante.
ResponderEliminarBeijinhos
Bastante interessante minha amiga.
EliminarUm abraço
Também não conhecia esse autor, mas seus livros parecem ser encantadores!
ResponderEliminar*Venha nos visitar:
papeldeouro2016.blogspot.com.br
EU TAMBÉM NÃO CONHECIA, E FIQUEI DOIDINHA PRA LER "UMA NUVEM NUM POTE DE BARRO!, FRANCISCO SIOU VIDRADA NA POÉTICA DOS PORTUGUESES.
ResponderEliminarGOSTEI DA TRAJETÓRIA DO ESCRITOR.
BOM INÍCIO DE NOITE COM AQUELA BRISA SUAVE.
ABRAÇO!
Só tenho a agradecer esta partilha. Adorei ler o pensamento do escritor, tao bem colocado neste excerto e que traduz também (e o de outros do mundo da escrita) o meu, face ao conceito de entretenimento e à ideia de "dor" do ato criativo, além de outros aspetos. Fiquei com muita vontade de o ler.
ResponderEliminarBj, amigo