

SETÚBAL
Guardo uma noite de estrelas
para ver entre castelos
Setúbal em dois caminhos
Encruzilhando os destinos
Setúbal com dois caminhos
o mar e a terra cruzou
.
Setúbal para dois caminhos
levou-me os olhos à serra
e a distância convocou
Redonda a mão na laranja
a outra em concha tem sal
e dois caminhos Setúbal.
LIVROS
…teca! Biblioteca!
Biblioteca livro a ser
Branca folha envelhecida
Em que o mundo se recria.
Sol e sombra do silêncio.
Respira do meu compasso
De amparar o que já sei
Ignorando que o sabia,
De aprender a encontrar
Entre palha o grão antigo
Sem meu digo e com meu digo.
Livro …teca! Biblioteca!
Livro a ser a Biblioteca!
Biblioteca ….teca ….teca!
Biblioteca!
IMENSIDÃO
Poema Arrabidino
Teu canto
sem princípio e sem fim:
todas as coisas existindo
para além de si mesmas.
.
Um sol no alto quase a pino
dando à luz um repouso
nas sombras das ramagens
sob os verdes entre os verdes sobre o chão.
.
Teu silêncio
diante de um espelho que te dá
em imagem do mundo
o sonho que trazias.
.
Em sobreviver!
quem virá esta esperança redimir
de ter amado tanto o impossível?
Pouco! Muito pouco sempre um homem
sulcando espaços infinitos
na vastidão imensa dos destinos!
Por isso enquanto
a teia de tudo obedecer
à lei do movimento em que respiras
teu canto há-de ser em ti a vida.
Sem fim. E mesmo sem princípio.

Resendes Ventura
Manuel Pereira Medeiros
Papel a Mais
Este livro oferece-nos, simultaneamente, ensaio e literatura.
Ensaio, porque o livreiro Manuel Medeiros decidiu dizer o que pensa acerca da situação actual do mercado do livro, sem deixar de falar das políticas de incentivo à leitura e dos diversos agentes que fazem desta actividade um negócio e ou uma paixão. A sua experiência de largas dezenas de anos ― convivendo com autores, editores e distribuidores ― é assim posta ao serviço de uma reflexão que ao correr da pena vai descobrindo feridas e apontando caminhos.
Literatura, porque o escritor Resendes Ventura (afinal, o livreiro Manuel Medeiros) publica nesta obra uma extensa colectânea de folhas em prosa e poesia, fazendo-se aliás acompanhar por notáveis companheiros de escrita que fizeram questão de participar, com textos que nunca lemos, homenageando o autor.
INCLUI TEXTOS INÉDITOS DOS ESCRITORES:
MATILDE ROSA ARAÚJO, TERESA RITA LOPES, MARIA ALBERTA MENÉRES, LUÍSA DUCLA SOARES, SILVA DUARTE, AVELINO DE SOUSA, URBANO TAVARES RODRIGUES, EDUÍNO DE JESUS, URBANO BETTENCOURT, ONÉSIMO TEOTÓNIO ALMEIDA, ARMANDO CÔRTES-RODRIGUES, MARIA DE LOURDES BELCHIOR, FAUSTO LOPO DE CARVALHO, SEBASTIÃO DA GAMA
E UMA ILUSTRAÇÃO INÉDITA DE JOSÉ RUY
SOBRE O AUTOR:
Resendes Ventura é o nome literário de Manuel Pereira Medeiros, que o criou para a sua escrita quando em 1968 saiu dos Açores, onde assinava como Manuel Pereira. Nasceu a 14 de Janeiro de 1936 na freguesia de Água Retorta, concelho de Povoação, na ilha de São Miguel, e reside em Setúbal desde 1970, onde continua a trabalhar na livraria que fundou, a Culsete, um dos pólos culturais relevantes da cidade de Setúbal.
Tem escrito inúmeros artigos, dispersos por jornais e revistas, e tem colaborado com diversas estações de rádio onde já manteve rubricas sobre livros. É autor de prefácios, textos de divulgação e alguns de polémica, num exercício consciente de cidadania.
Tem diversas obras publicadas e está representado nas seguintes antologias: Antologia Poética dos Açores (Angra do Heroísmo, 1979), Setúbal Terra de Poetas e Cantadores (Setúbal, 2001), A Serra da Arrábida na Poesia Portuguesa (Setúbal, 2002).
Esta obra foi publicada com o apoio da Presidência do Governo dos Açores.